O 25 de Abril
Foi há 34 anos que às 00.30h do dia 25 de Abril, se ouviu, na Rádio Renascença, a canção de Zeca Afonso, “Grândola, Vila Morena”. Era a senha para o início da revolução. Era o desmoronar do “Estado Novo” imaginado por Salazar.
Era o fim da ditadura e o advento da liberdade e da democracia para Portugal e para os portugueses.
Foi esta força viril
de antes de quebrar que torcer
que em vinte e cinco de Abril
Fez Portugal renascer
E em Lisboa capital
dos novos mestres de Aviz
o povo de Portugal
deu o poder a quem quis.
Antecedentes
Em 1974 o regime político português encontrava-se ao nível político e social praticamente esgotado. Os ventos da mudança tinham chegado a Portugal. Salazar morrera há já cinco anos.
Os portugueses, aproveitando uma era de expansão económica – que viria a acabar com a subida do preço do petróleo em 1973 – tinham melhorado muito o seu nível de vida. O número de televisores e automóveis subira consideravelmentee. Entretanto, a Guerra Colonial continuava há já 13 anos, sem solução à vista e fazendo Portugal quase figura de D. Quixote, pois todas as antigas potências coloniais já haviam promovido a independência das suas colónias. Embora o número de mortos e feridos nessa guerras não fosse muito elevado, a ida para o exército não deixava de ser um risco. Os custos em vidas e em recursos materiais tinham conduzido a sociedade portuguesa a um profundo estado de esgotamento.
A situação nos campos também se havia modificado, com a partida de milhares de homens “a salto”
(isto é, emigrando ilegalmente) para França, Luxemburgo e Alemanha, o que tornou os trabalhadores menos dependentes dos antigos patrões e mais conhecedores da realidade europeia. Finalmente, o chefe de Estado, o professor Marcello Caetano, era muito mais professor do que político, e não era certamente um condutor de homens. “Pensei muito e não encontrei outra solução”, disse uma vez referindo-se à Guerra Colonial. O governo de Marcello Caetano ia, dia a dia, perdendo prestígio. O isolamento internacional era total.
Arrastando-se a guerra em África, como se disse, há já 13 anos e faltando candidatos às carreiras militares, o governo decidiu ir buscar os antigos oficiais milicianos que tivessem cumprido uma comissão de serviço no Ultramar e que após um curso acelerado eram promovidos a capitães. Era a política do exército barato. A medida foi muito mal recebida pelos militares de carreira. As reuniões multiplicavam-se. Nestas reuniões começaram a abordar o problema da Guerra Colonial e a queda do regime. Este movimento militar, o Movimento das Forças Armadas – MFA, era composto quase exclusivamente por capitães e escolheu para a sua cúpula as mais altas chefias militares, o Chefe e o Vice-Chefe do Estado Maior do Exército, generais Costa Gomes e António de Spínola . Em Fevereiro de 1974, António de Spínola, general prestigiado nas forças armadas, provoca um terramoto político ao propor no seu livro “Portugal e o Futuro” uma evolução das colónias portuguesas para uma comunidade de Estados.
Este livro provoca a demissão de Spínola a 14 de Março e a 16 acontece a revolta das Caldas da Raínha, mas o movimento, mal estruturado e sem apoios fracassou.
A 25 de Abril nova revolução, desta vez mais estruturada.
O regime caiu por não ter já quem o defenda e queira dar a vida por ele.
Algumas horas após a transmissão de poderes de Marcello Caetano para as mãos de Spínola, constituiu-se um órgão de governo provisório, com representação de todos os ramos das Forças Armadas, a Junta de Salvação Nacional. A 26 de Abril, os presos políticos são libertados, os refugiados políticos regressam do estrangeiro e os agentes da polícia política são presos.
Nos meses que se irão seguir o país assiste a uma movimentação febril sem precedentes: constituem-se partidos políticos, surgem organizações sindicais, floresce uma variadíssima imprensa livre, estabelecem-se relações diplomáticas com quase todos os países do globo e procede-se à descolonização por via negocial.
Portugal retoma o seu lugar na comunidade das nações.
A “Revolução dos Cravos”, onde as flores substituíram as balas, lançou a liberdade sobre Portugal e estendeu-as às colónias, que se tornaram independentes.
Área Disciplinar de História