quinta-feira, 8 de novembro de 2007

De Lourenço Marques a Maputo - Alguns dados sobre a sua História



Comemora-se a 10 de Novembro do presente ano de 2007, 120 anos da cidade de
Maputo. Esta cidade, situada na baía e província do mesmo nome, no Sul de
Moçambique tem uma história marcada por conflitos que envolveram vários povos,
africanos, europeus e asiáticos.
Vamos conhecer alguns factos da sua história.
O navegador e comerciante português Lourenço Marques foi, por volta de 1544, o
primeiro europeu a fazer o reconhecimento de toda a região que confinava com a baía a
que chamou do Espírito Santo (actual baía de Maputo) mas há referências portuguesas a
esta baía, anteriores a essa data.
A exploração comercial desta região começou com a fundação de uma feitoria e a
construção de algumas casas nas ilhas, dos Portugueses (próxima da Inhaca) e da
Xefina. Todos os anos chegava à baía do Espírito Santo uma nau que partia da ilha de
Moçambique (ocupada pelos portugueses desde 1507 e depois convertida em sede do
governo colonial) e tinha como objectivo adquirir marfim em troca de tecidos e
missangas.
Durante os séculos XVII e XVIII esta zona começou também a ser frequentada por
navegadores e comerciantes ingleses, holandeses, franceses e austríacos. Durante algum
tempo, primeiro holandeses e depois austríacos, fixaram-se na baía mas, em 1781, uma
expedição militar portuguesa, proveniente de Goa, chegou a esta região, tomou e
destruiu a feitoria que os austríacos haviam erguido e restabeleceu a hegemonia
comercial portuguesa.
«Deve-se a Vicente Caetano da Maia e Vasconcelos, governador interino de
Moçambique, empossado em 8 de Maio de 1781, a iniciativa de se instalar “uma
feitoria e casa forte”, o chamado presídio, para proteger o comércio português na
Baía. Para a sua concretização, nomeou, em 25 de Novembro de 1781, capitão-mor e
governador Joaquim de Araújo e “deu-lhe as instruções por que deveria reger-se, (...)
que constituem a primeira carta orgânica-política, administrativa e económica da baía
e terras de Lourenço Marques”. Oficialmente, essas instruções, consubstanciadas no
denominado Regimento de 25 de Novembro de 1781, são consideradas o diploma de
criação de Lourenço Marques.»
No início do século XIX, o presídio de Lourenço Marques era um pequeno aglomerado
de casas e palhotas que se situavam entre a fortaleza, situada ao pé da praia e a actual
Praça dos Trabalhadores (onde se localiza a Estação dos Caminhos de Ferro). Era
também conhecido pela designação de Xilunguíne que significa o sítio dos brancos.
Em volta da baía existiam várias unidades políticas sendo as principais: Magaia,
Mpfumu e Matola, ao norte, Tembe e Maputu ao sul da baía. Esta zona começou, desde
o início do século XIX, a ser afectada pelas conquistas de vários grupos de nguni,
vindos de Natal. As guerras que daí resultaram provocaram mudanças políticas.
Até 1828 o estado dos Zulu, chefiado por Chaca, estendeu-se até à baía de Maputo. Os
chefes das antigas unidades políticas não foram substituídos mas sim forçados a pagar
tributo e a fornecer apoio militar.
Em 1833 o estado dos Zulu tinha estendido o seu poder até à margem norte da baía e era
chefiado por Dingane (irmão de Chaca) desde 1828. Para o rei Zulu o governador
português de Lourenço Marques, na altura Dionísio Ribeiro, era uma espécie de chefe
regional na baía de Maputo e por isso tratava-o basicamente como tratava os chefes
africanos da região.
No presídio de Lourenço Marques, para além das pressões exercidas pelas várias
unidades políticas que o circundavam, os portugueses enfrentaram a rivalidade dos
ingleses que se tinham estabelecido no Natal desde 1834 e que tinham pretensões
relativamente ao sul da baía (Maputo, Catembe e Inhaca). Esta rivalidade inglesa só foi
resolvida a 24 de Julho de 1875 depois da sentença arbitral proferida pelo então
presidente da República Francesa, marechal de Mac-Mahon que reconheceu a Portugal
direitos soberanos sobre a região.
Nos finais do século XIX o comissário régio António Enes instalou-se em Lourenço
Marques, com o seu estado-maior, para dirigir a ocupação militar do sul de
Moçambique. O chefe Mpfumu Nuamantibjane e o seu aliado Mahazul, chefe da
Magaia, foram os maiores opositores à ocupação colonial portuguesa da baía mas a
mesma acabou por se efectivar.
Lourenço Marques foi-se então expandindo gradualmente, por vontade política
portuguesa e por factores económicos relacionados com o porto que era, na altura, para
as comunidades boers do interior (África do Sul) uma via rápida de comunicação com o
exterior.
A 9 de Dezembro de 1876, Lourenço Marques foi elevada à categoria de vila e a 10 de
Novembro de 1887 ascendeu a cidade pelo decreto real que aqui se transcreve:
“Tomando em consideração o notavel incremento que tem tido a villa de Lourenço
Marques, capital do districto do mesmo nome na provincia de Moçambique, em
resultado dos melhoramentos materiais ali ultimamente realisados, e attendendo á
excepcional importancia que tanto aquella villa como o seu porto hão de adquirir com
a proxima exploração do caminho de ferro que ha de ligar, por uma communicação
facil e rapida, aquele districto com a republica do Transvaal, importancia que é já hoje
muito sensivel no augmento da navegação e do commercio, e na transformação rapida
que se está operando nas condições economicas e sociaes d’aquella povoação: hei por
bem decretar que a mencionada villa seja elevada á categoria de cidade, com a
denominação de: cidade de Lourenço Marques.
O ministro e secretario d’estado dos negócios da marinha e ultramar assim o tenha
entendido e faça executar.
Paço, em 10 de Novembro de 1887 =REI= Henrique de Macedo”.
A 23 de Maio de 1907 Lourenço Marques tornou-se a capital da colónia de
Moçambique ao ser decretada a reforma denominada “Reorganização Administrativa da
Província de Moçambique”.
A cidade cresceu ligada à actividade portuária e modernizou-se. Um estudo
pormenorizado da cidade, das suas ruas, praças e edifícios, da vida social, económica e
política ao longo do tempo, foi feito pelo historiador português Alexandre Lobato na
obra “Lourenço Marques, Xilunguíne – biografia da cidade”.
Após a independência de Moçambique, a 3 de Fevereiro de 1976, o primeiro Presidente
da República, Samora Moisés Machel, num comício realizado na capital do país
anunciou a mudança do nome da cidade de Lourenço Marques para Maputo, dizendo:
“Vamos dizer Lourenço Marques? População de Lourenço Marques? Então como é
que vamos dizer? Viva a população da Província de Maputo! Viva a população do
distrito de Lourenço Marques? Então são de Lourenço Marques? Não. Então qual é o
nome que vamos dar à nossa Província? Como é que se vai chamar esta Província?
Capital de onde? O nome da capital como é que vamos dizer? Então? Eu vou dizer
depois de ter ouvido muitas opiniões aqui. Lourenço Marques já não é Lourenço
Marques. A capital chama-se Maputo. A partir das nove horas e trinta e cinco minutos
de hoje Lourenço Marques morreu, a nossa capital chama-se Maputo. Província de
Maputo, capital Maputo.”
Maputo manteve-se até hoje como a cidade capital de Moçambique e é a maior das suas
cidades.

2 comentários:

Anónimo disse...

Pois eu sou de Lourenço Marques, assim como o meu pai, a minha mãe, três dos meus avós e dois dos meus bisavós.

nobre de melo ughetto disse...

Na vida tudo muda. Minha bisavó nasceu no sul de Moçambique, minha avó e minha mãe são naturais de Inhambane, eu e os meus filhos nascemos em Lourenço Marques depois da Independencia de Moçambique mudaram o nome da cidade de Lourenço Marques para Maputo, não posso dizer que gostei, mas já que resolveram mudar e sendo Maputo um nome já atribuído a região abstenho-me.