quinta-feira, 24 de abril de 2008

25 de Abril de 1974


O 25 de Abril

Foi há 34 anos que às 00.30h do dia 25 de Abril, se ouviu, na Rádio Renascença, a canção de Zeca Afonso, “Grândola, Vila Morena”. Era a senha para o início da revolução. Era o desmoronar do “Estado Novo” imaginado por Salazar.
Era o fim da ditadura e o advento da liberdade e da democracia para Portugal e para os portugueses.

Foi esta força viril
de antes de quebrar que torcer
que em vinte e cinco de Abril
Fez Portugal renascer
E em Lisboa capital
dos novos mestres de Aviz
o povo de Portugal
deu o poder a quem quis.

José Carlos Ary dos Santos.




Antecedentes

Em 1974 o regime político português encontrava-se ao nível político e social praticamente esgotado. Os ventos da mudança tinham chegado a Portugal. Salazar morrera há já cinco anos.
Os portugueses, aproveitando uma era de expansão económica – que viria a acabar com a subida do preço do petróleo em 1973 – tinham melhorado muito o seu nível de vida. O número de televisores e automóveis subira consideravelmentee. Entretanto, a Guerra Colonial continuava há já 13 anos, sem solução à vista e fazendo Portugal quase figura de D. Quixote, pois todas as antigas potências coloniais já haviam promovido a independência das suas colónias. Embora o número de mortos e feridos nessa guerras não fosse muito elevado, a ida para o exército não deixava de ser um risco. Os custos em vidas e em recursos materiais tinham conduzido a sociedade portuguesa a um profundo estado de esgotamento.
A situação nos campos também se havia modificado, com a partida de milhares de homens “a salto”
(isto é, emigrando ilegalmente) para França, Luxemburgo e Alemanha, o que tornou os trabalhadores menos dependentes dos antigos patrões e mais conhecedores da realidade europeia. Finalmente, o chefe de Estado, o professor Marcello Caetano, era muito mais professor do que político, e não era certamente um condutor de homens. “Pensei muito e não encontrei outra solução”, disse uma vez referindo-se à Guerra Colonial. O governo de Marcello Caetano ia, dia a dia, perdendo prestígio. O isolamento internacional era total.
Arrastando-se a guerra em África, como se disse, há já 13 anos e faltando candidatos às carreiras militares, o governo decidiu ir buscar os antigos oficiais milicianos que tivessem cumprido uma comissão de serviço no Ultramar e que após um curso acelerado eram promovidos a capitães. Era a política do exército barato. A medida foi muito mal recebida pelos militares de carreira. As reuniões multiplicavam-se. Nestas reuniões começaram a abordar o problema da Guerra Colonial e a queda do regime. Este movimento militar, o Movimento das Forças Armadas – MFA, era composto quase exclusivamente por capitães e escolheu para a sua cúpula as mais altas chefias militares, o Chefe e o Vice-Chefe do Estado Maior do Exército, generais Costa Gomes e António de Spínola . Em Fevereiro de 1974, António de Spínola, general prestigiado nas forças armadas, provoca um terramoto político ao propor no seu livro “Portugal e o Futuro” uma evolução das colónias portuguesas para uma comunidade de Estados.
Este livro provoca a demissão de Spínola a 14 de Março e a 16 acontece a revolta das Caldas da Raínha, mas o movimento, mal estruturado e sem apoios fracassou.
A 25 de Abril nova revolução, desta vez mais estruturada.




A Revolução

Na noite de 24 para 25 de Abril, duas estações de rádio lançam para o ar duas canções que irão adquirir um simbolismo particular: “E Depois do Adeus”, interpretada por Paulo de Carvalho, que soa como uma despedida do governo marcelista, e “Grândola, Vila Morena”, interpretada por José Afonso, com um conteúdo opositor ao regime.
Estas canções desencadearam as operações militares coordenadas pelo major Otelo Saraiva de Carvalho.
Todos os pontos estratégicos do país foram ocupados.
Sem disparar um único tiro cobrem praticamente todo o país. Marcello Caetano, refugiado no quartel do Carmo, acaba por se render ao general António de Spínola.
Só um incidente irá manchar os acontecimento: agentes da polícia política PIDE/DGS, barricados na sua sede, abrem fogo sobre manifestantes causando alguns mortos e feridos.



O regime caiu por não ter já quem o defenda e queira dar a vida por ele.
Algumas horas após a transmissão de poderes de Marcello Caetano para as mãos de Spínola, constituiu-se um órgão de governo provisório, com representação de todos os ramos das Forças Armadas, a Junta de Salvação Nacional. A 26 de Abril, os presos políticos são libertados, os refugiados políticos regressam do estrangeiro e os agentes da polícia política são presos.
Nos meses que se irão seguir o país assiste a uma movimentação febril sem precedentes: constituem-se partidos políticos, surgem organizações sindicais, floresce uma variadíssima imprensa livre, estabelecem-se relações diplomáticas com quase todos os países do globo e procede-se à descolonização por via negocial.
Portugal retoma o seu lugar na comunidade das nações.
A “Revolução dos Cravos”, onde as flores substituíram as balas, lançou a liberdade sobre Portugal e estendeu-as às colónias, que se tornaram independentes.

Área Disciplinar de História

1 comentário:

Anónimo disse...

LIBERDADE
Ai que prazer
não cumprir um dever,
ter um livro para ler
e não o fazer1
Ler é maçada
Estudar é nada.
O Sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa,
de tão naturalmente matinal,
como tem tempo, não tem pressa…
Livros são papeis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa que está indistinta
a distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há uma bruna,
Esperar D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças…
Mas o melhor do mundo são as crianças,
flores, musica, o luar e o sol, que peca
só quando em vez de criar, seca.
O mais do que isto
é Jesus Cristo
que não sabia nada de finanças
nem consta que tivesse biblioteca…
FERNANDO PESSOA
Dedico ao professor Dr. Francisco Mascarenhas Loureiro
E relembro que “A Liberdade de uma Pessoa não acaba,
quando a de Outra começa”